"...NO MAIS, O MATO DORMIA NUM QUIRIRI SEM ALARMES"

 

Inspirados nessa frase de José de Alencar, eu e Rosa Maria iniciamos um trabalho de pesquisa que pretendia resgatar as vocações ambientais originais de nossa propriedade situada em Paraibuna, estado de São Paulo, outrora domínio dos índios Tamoios. Joana era apenas recém-nascida, mas já pensávamos no projeto como nosso legado à criatura por nós gerada, com tanto amor. Tivemos muito apoio da direção de Engenharia Ambiental da CESP, que administrava o reservatório formado pelos rios Paraibuna e Paraitinga, bem como do Departamento de Biologia do Centro Universitário de Santo André (UNI-A). Annalisa e Antonio Carlos Tavares assinaram os projetos arquitetônicos, visando o máximo de integração das obras ao projeto ambiental. Após a devida recuperação da terra exaurida, durante mais de oito anos plantamos cerca de 40.000 mudas de essências nativas da original Mata Atlântica, destruída pela agressiva e desordenada ocupação agrícola e imobiliária. Guapuruvus, Pitangueiras, Paus-Ferro, Jacarandás, Ipês, Embaúbas, Jabuticabeiras,...e outras centenas de espécies, logo começaram a mostrar ao que tinham vindo. O quiriri* do mato já se fazia sentir. No final da década de 80, na entrada da Primavera, a TV Globo dedicou um programa Globo Rural inteiramente ao paraíso que estávamos criando, mostrando, com detalhes, todo o processo de reflorestamento, e a consequente volta da fauna nativa e reativação dos mananciais. Joana já era adolescente e demonstrava grande interesse pelo lugar e pelo trabalho realizado. Passamos então a promover encontros voltados a atividades esportivas diversas, especialmente às aquáticas, visto que a propriedade se situa junto ao imenso reservatório já citado, e àquelas ligadas a cavalos, devido ao meu particular interesse pelo hipismo. Nesses encontros, paralela e invariavelmente eram incluídas atividades de educação ambiental.
Hoje, a área é considerada "reserva ecológica e refúgio de fauna". Nós, os criadores e demais participantes desse projeto, temos muito orgulho disso, e jamais tivemos outra intenção que não a de construir e partilhar um pequeno pedaço de paraíso em memória daquela que foi, talvez, nossa mais importante floresta, em vez de ter ajudado a escrever seu epitáfio.

                                                                                                                                                     Valdemar Mattei